quarta-feira, 4 de março de 2009

Sou do Sardoal

Não imaginam a vergonha que se pode tornar, tentar explicar de onde somos, dando como referência algo que ninguém conhece, preterindo, por ignorância extrema, outros pontos de referência, bem mais conhecidos para todos os portugueses e até, quem diria, para os não lusos.
Acontece que quando me perguntaram de onde era, de que zona vinha, respondi como sempre: “Sou do Sardoal”. A pessoa não sabia onde era e aí começou a minha “carga de porrada” que me partiu todo. Porquê? Porque fui burro, ignorante e acima de tudo descobri, ou ele fez-me descobrir, que se queremos explicar de onde somos e ninguém sabe, devemos de dar verdadeiros pontos de referência, válidos e úteis.
A seguir ao “de onde vens” e à respectiva resposta, disse que era ao pé de (e até me sinto envergonhado) Abrantes. Como me acho um asno agora, depois de tamanha lição (nada em Abrantes me incomoda, nem tenho nada contra).
Pois bem, o que se seguiu, garanto-vos que me vai levar para a cova, porque responder: que é ao pé de Abrantes, é a mesma coisa que responder, a quem não sabe onde fica Abrantes, que é ao pé do Sardoal.
Prosseguindo a explicação, disse que fica perto de Vila de Rei ( 20Km ), Tomar ( 30Km ), e exemplo mundialmente conhecido, desde Espanha à Russia, Fátima ( 60Km ). E aí, o homem, desancou-me, e começou o festival da minha igorância por desleixo da “minha” terra.
Rapidamente e após as considerações dele, me terem remetido a um silêncio de quase 10 minutos, continuou dizendo ser “incrivél morar perto do centro geodésico de Portugal Continental (todo o portugûes sabe onde fica), estar perto da terra de Templários e das suas festas dos Tabuleiros (entretanto conheci quem vá da Suíça a Tomar por elas) e perto de um lugar simbólico para a religião católica, como é Fátima, e dares como referência Abrantes!!!”. De facto foi muito mau.
Perguntou-me também o que conhecia eu de Abrantes, para a ter referenciado, ao que respondi a palha de Abrantes, que foi rapidamente explicada pelo meu primo que era uma trocha de ovos. E aí voltou mais uma “carga de porrada”.
Penso que o homem parou por pena, porque me tinha desancado na totalidade. Mas o pior foi quando ao chegar um colega deste, da zona norte do país, e depois das apresentações normais, eu ter dito que era do Sardoal, o que em resposta ouvi algo que podia ter dito à 20 minutos atrás: “Isso não é a terra de Lagartos e tijeladas, no centro do país?”. E como a porrada já tinha sido pouca, o primeiro ainda me estrangulou mais um pouco, porque para ele tijeldas era dos melhores docês que já tinha provado, e eu não tinha dito nada.
Isto só me faz pensar que ser do Sardoal, por mais pequeno e mal que aquilo possa andar, há-de ser sempre a nossa Santa Terrinha, porque lá temos os nossos amigos por mais espalhados que possam andar no mundo, porque lá temos as grandes recordações de adolescência, porque fizemos lá coisas que nunca mais nos esquecemos, porque lá, por pior que seja, temos sempre o sorriso na cara, porque não podemos passar muito tempo sem pensar em como lá ir, e claro, porque havemos de ser sempre LAGARTOS, custe o que custar, doa a quem doer.
Depois disto tudo, entristece-me ver pessoas do Sardoal, dizerem que são de Lisboa, ou são de Abrantes ou de outro sítio qualquer, como se fossem uns deslocados de guerra que não têm onde cair mortos, rendendo-se a um snobismo triste, como se não soubessemos de onde vêm!
Por mais pequena que seja a nossa Santa Terrinha, jamais tenham vergonha dela. Seja de onde fores, não queiras ser envergonhado como eu fui.

3 comentários:

flores disse...

Bem Daniel que grande post, eu assino por baixo de tudo o que esta escrito, é que isto de ser do Sardoal não se explica sente-se! (para mais sou de Alcaravela e Amo o Sardoal)

Paulo Sousa disse...

Quando vieres ao sardoal tens de levar umas dúzias de tijeladas e distribuir ao pessoal.
Depois é só dizeres que és da terra onde se fazem essas delícias. E nunca mais levas porrada. :-)))

Abraço

Paulo Sousa disse...

Como estás fora e não sei se acompanhas esta paraíso, o meu post sobre o "viçio" tem como base estas noticias.
Procura mais

http://aeiou.expresso.pt/o_festival_de_asneiras_do_magalhaes=f501580