segunda-feira, 30 de março de 2009

80 anos mais? Porra!

Tentaram-me vender uma t-shirt, dessas muito famosoas com a cara do Ché Guevara (que se parece muito com o Cantiflas). Claro que faziam parte de um grupo anti-G8, e estavam ali a apregoar pela liberdade de ideias e de opinião, em todo o mundo.
Eu fiquei um pouco sem saber o que fazer, mas sabia bem em que devia pensar. Perguntei ao ilustre seboso: porque não uma do Estaline, ou Kim Il-Sung ou do Hittler? Eles não fizeram o mesmo que os libertadores Fidel e Ché? Não respondeu ele. Esses oprimiram o povo e não lhes deram os devidos direitos humanos e liberdade de expressão!
Fiquei sem saber o que haveria de dizer, porque não valia a pena argumentar-me.
Na mesma forma, fico sem saber o que dizer quando vejo pessoas publicitarem os ditadores. Pessoas essas, que até são bem informadas e dizem terem sidos lutadoras da liberdade de expressão. Mas enfim, tudo o que posso acrescentar a tais “liberais”, é o simples lamento de continuarem a proclamar os ditadores. A diferença entre “Hittleres” e “Fideis/Chés”, “Estalines” e “Salazares”, é o simples facto de dizerem as coisas de maneira diferente. Os resultados no livre pensamento e liberdade de expressão, não foram os mesmos? Não assasinaram? Não tiveram os mesmos campos de concentração?
Há dias encontrei um livro numa feira de rua, que me chamou a atenção. Intitula-se “Memórias de prisão”, de Armando Valladares, e relata a história vivida por este, durante os 22 anos que esteve preso por ter uma concepção política diferente do regime de Fidel de Castro. Deixo-vos aqui, a tradução da primeira página desse livro.

“Este livro é um testemunho de 22 anos passados nas prisões políticas de Cuba, unicamente por ter manifestado concepções políticas diferentes do regime de Fidel de Castro.
No meu país há qualquer coisa, que os defendores mais ferverosos da revolução cubana não poderam negar: é o facto de uma ditadura existir há mais de um quarto de século. Ora um ditador não se pode manter no poder durante tanto tempo sem violar os Direitos do Homem, sem percursões, sem detidos políticos e sem prisões.
Neste momento, existem em Cuba mais de 200 estabelecimentos penitenciários, prisões de alta segurança e campos de concentração, ao que eles lá chamam de “celeiros” e de “frentes abertas”, onde os prisioneiros são condenados a trabalhos forçados.
Em cada uma destas 200 prisões, passaram-se e passam-se muitas coisas para escrever numerosos livros. Assim, este testemunho é apenas um esquisso daquela terrível realidade.
Um dia virá, onde se contarão as suas histórias nos seus detalhes, e a humanidade será tocada pelo horror, como foi nas descobertas dos crimes do Estaline.
A Amnistia Internacional, nas suas ultimas informações publicas, denunciou a execução de dezenas de prisioneiros políticos, os golpes e os maus tratos a que submeteram todos os que estavam encarcerados. Quando ela perguntou aos governadores cubado pela supressão da pena de morte, o vice-presidente actual de Cuba, antigo ministro do anterior ditador Batista, Carlos Rafael Rodruiguez, retorquiu que em Cuba, a pena de morte era indispensável. Foi também ele, que durante uma entrevista pública para o Diário 16, a 16 de Outubro de 1983, quando um jornalista lhe perguntou se existiam em Cuba, grupos que reclamavam a liberdade e o respito pelos Direitos do Homem, respondeu que havia, algumas, e que tinham também pessoas com esquisitas ideias de liberdade e de Direitos do Homem, mas eram considerados pessoas ridículas.”

Dedico este pequeno excerto do livro, a todos os que proclamam Fidel e Ché, nas t-shirts, no pensamento e na liberdade (não esquecendo o ilustre seboso anti-G8).

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sempre as tretas do futebol

Vou seguindo sempre que posso as notícias que chegam de Portugal. Mas nos últimos dias, com as tretas do futebol, dos penaltis e dos árbitros, começaram a ser relegadas para segundo plano todas as outras notícias, o que para além de ser de muito mau gosto, deixa uma imagem má do país.
Claro que até, pelo menos, à próxima segunda-feira o futebol, ou melhor, as patetices do único desporto relevante para 80% dos portugueses, vão ter lugar de destaque nas televisões e depois, com a selecção a jogar no fim de semana, esqueçam, porque não vai haver informações, pelo menos aqui fora. Então se a selecção perder temos pelo menos até quarta-feira mais um folhetim, isto como se a selecção nacional de futebol fosse o representante da pátria no mundo (que não é) e como se fosse o fim do mundo não participar-mos na fase final do Campeonato Mundial de 2010.
Nos dias de hoje, pelo menos por aqui, quando queremos saber notícias ou informações de Portugal, quase que temos de fazer uma pesquisa na internet, porque de outro modo é difícil. Com isto tudo, Portugal ficou sem problemas de professores, de desemprego, de Freeports, ninguém mais se queixou do Sócrates... para que fosse remetido a um árbitro os problemas de um país andar mal, porque ele marcou um penalti que não era.
Aliás, acho isso tão caricato que teve direito a que a RTP (no estrangeiro RTPi ), que pensava eu ser um bom orgão de jornalismo e seriedade, fizesse um Prós e Contras a falar de futebol.
Mas o interessante, é que em Portugal o futebol é pouco relevante, pois a malta gosta é do mediatismo que o futebol pode atrair, dos 3 grandes, dos jornais despostivos, do fomos roubados, etc. Porque se estivessem interessados em futebol, rapidamente se sentiriam no mínimo envergonhados em saber o que aconteceu, por exemplo, à equipa de juniores da Naval 1° de Maio, por ter-se atrasado 2 minutos para a entrada em campo. Ora leiam:

“A Naval 1º de Maio está indignada com o castigo que foi aplicado à equipa de juniores: dois anos de suspensão. Esta foi a decisão mais pesada do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, no âmbito de um caso referente ao jogo com o Rio Maior.
A equipa da Figueira da Foz atrasou-se a comparecer junto da equipa de arbitragem, e a vitória por 8-1, e consequente apuramento para a segunda fase, foi «substituída» por uma derrota por 3-0, desclassificação do campeonato, descida aos distritais e dois anos de suspensão daquele escalão.
O atraso de dois minutos da formação navalista deve-se ao facto da equipa ter estado a visionar um vídeo antes do início do jogo, onde estavam inseridas mensagens de incentivo e motivação dos seus pais. Os jogadores surgiram junto da equipa de arbitragem às 14h59, e não às 14h57, como está previsto. O jogo acabou por ter início às 15h10, e aí neste aspecto que se baseia o recurso da Naval.”

Ora deixo aqui a sugestão somente aos interessados do dito futebol de cafés, de compararem o tal penalti e eventual problemas que isso cria na nação com o que aconteceu a uma equipe de juniores que se atrasou 2 minutos.
Aos outros, os que gostavam de poder ver notícias, deixo o apelo esperançoso de que um dia as notícias voltem ao (a)normal.

sábado, 21 de março de 2009

Os erros do Magalhães

O que me traz aqui hoje é o fantástico Magalhães. Isto porque o Magalhães, não presta, não interessa e como tal não se torna importante na educação, dado quando as crianças ainda não sabem ler nem escrever. Mas como é um computador , a maioria do pessoal está de acordo, mas o que eu gostava de ver era as associações de pais entrarem em protesto contra o Magalhães, os professores desfilarem a favor de um ensino de qualidade sem Magalhães (para os mais pequenos), os sindicatos a promoverem a exclusão do Magalhães,em idades tenras e os pais a queixarem-se que os filhos estão a vir mais ignorantes da escola, pois primeiro deviam de saber o essencial para depois mexerem num computador .
Creio que talvez os pais se apercebam que o dinheiro gasto num computador para os filhos jogarem, talvez fosse mais bem empregue no dia em que esses filhos precisem de óculos, ou de material que não podem comprar para escola, ou de equipamento para fazer desporto, etc...
Isto falando da questão do dinheiro gasto, porque falando dos erros do Magalhães e do que ele não contribui no ensino, deixo aqui uma lista dos mesmos. Se não os encontrar ou não percebe-los, então em breve terá também direito a um.

EM QUALQUER "MAGALHÃES" PERTO DE SI:

* "Cada automóvel só pode mover horizontalmente ou verticalmente. Tu deves
ganhar espaço para permitir ao carro vermelho de sair pelo portão à
direita."
* "O Tux escondeu algumas coisas.. Encontra-las na boa ordem."
* "Carrega nos elementos até pensares que encontras-te a boa resposta. (...)
Nos níveis mais baixos, o Tux indica-te onde encontras-te uma boa cor
marcando o elemento com um ponto preto. Podes utilizar o botão
direito do rato para mudar as cores no sentido contrario."
* "Dirije o guindaste e copía o modelo."
* "Abaixo da grua, vai achar quatro setas que te permitem de mexer os
elementos."
* "O objectivo do quebra-cabeças é de entrar cifres entre 1 e 9 em cada
quadrado da grelha, frequentemente grelhas de 9x9 que contéem grelhas de 3x3
(chamadas 'zonas'), começando com alguns números já metidos (os 'dados').
Cada linha, coluna, e zona só pode ter uma vez um símbolo ou cifre igual."
(nota: instruções para o jogo sudoku)
* "Carrega em qualquer elemento que tem uma zona livre ao lado dele. Ele vai
ir para ela."
* "Enfia a bola no buraco preto á direita."
* "Com o teclado, escreve o número de pontos que vês nos dados que caêm."
* "O objectivo do jogo é de capturar
*”Ao princípio do jogo 4 sementes são metidas em cada casa. O jogadores movem
as sementes por vês. A cada torno, um jogador escolhe uma das 6 casas que
controla. (...) Se a última semente também fês um total de 2
ou 3 numa casa do adversário, as sementes também são capturadas, e assim de
seguida. No entanto, se um movimento permite de capturar todas as sementes
do adversário, a captura é anulada (...). Este interdito é ligado a uma
ideia mais geral, os jogadores devem sempre permitir ao adversário de
continuar a jogar."
* "Aceder ás actividades de descoberta."
* "Pega as imagens na esquerda e mete-las nos pontos vermelhos."
* "Carrega e puxa os elementos para organizar a historia."
(nota: "historia" é repetidamente escrito sem acento)
* "Saber contar básicamente."
* "Move os elementos da esquerda para o bom sitio na tabela de entrada
dupla."
* "Puxa e Larga as peças no bom sitio."
(nota: "sitio" nunca é escrito com acento)
* "Com o teclado, escreve o número de pontos que vês nos dados que caêm."
* "Primeiro, organiza bem os elementos para poder contar-los (...)."
* "Carrega no chapéu para o abrires ou fechares. Debaixo do chapéu, quantas
estrelas consegues ver a moverem? Conta attentamente. Carrega na zona em
baixo à direita para meter a tua resposta."
* "Treina a subtracção com um jogo giro. Saber mover o rato, ler números e
subtrair-los até 10 para o primeiro nível."
* "Quando acabas-te, carrega no botão OK ou na tecla Entrada."
* "Conta quantos elementos estão debaixo do chapéu mágico depois que alguns
tenham saído."
* "Olha para o mágico, ele indica quantas estrelas estão debaixo do seu
chapéu mágico. Depois, carrega no chapéu para o abrir. Algumas estrelas
fogem. Carrega outra vês no chapéu para o fechares. Deves contar quantas
ainda estão debaixo do chapéu."

* "Lê as instruções que te dão a zona em que está o número a adivinhar.
Escreve o número na caixa azul em cima. Tux diz-te se o número é maior ou
mais pequeno. Escreve então outro número. A distância entre o Tux e a saída
à direita representa quanto longe estás do bom número. Se o Tux estiver
acima ou abaixo da saída, quer
dizer que o teu número é superior ou inferior ao bom número."
* "Tens a certeza que queres saír?"
* "Aprende a escrever texto num processador. Este processador é especial em
que obriga o uso de estilos (...)"
* "Neste processador podes escrever o texto que quiseres, gravar-lo e
continuar-lo mais tarde. Podes estilizar o teu texto utilizando os botões à
esquerda. Os quatro primeiros permitem a escolha do estilo da linha em que
está o cursor. Os 2 outros com múltiplas escolhas permitem de escolher tipos
de documentos e temas coloridos
pré-definidos."
* "Envia a bola nas redes"
* "É preciso saber manipular e carregar nos botões do rato fácilmente."* "O objectivo é só de descobrir como se podem criar desenhos bonitos com
formas básicas (...)."
* "O objectivo é de fabricar um forma dada com sete peças."
* "Quando o tangram for dito frequentemente ser antigo, sua existência foi
somente verificada em 1800."
(nota: explicação do tangram, um quebra-cabeças tradicional chinês)
* "Mexe as peças puxando-las. Carrega o botão direito nelas para as virar.
Selecciona uma peça e roda à volta dela para a rodar. Quando a peça pedida
estiver feita, o computador vai reconhecer-la (...)."
* "Reproduz na zona vazia a mesma torre que a que está na direita."
* "Reproduzir a torre na direita no espaço vazio na esquerda."
* "Puxa e Larga uma peça por vês, de uma pilha a outra, para reproduzir a
torre na direita no espaço vazio na esquerda."
* "Move a pilha inteira para o bico direito, um disco de cada vês."(nota: as
quatro últimas frases são as instruções dos jogos "Torres de Hanoi" e Torres
de Hanoi simplificadas" - "Hanoi" sem acento no "o")
* "Torno dos brancos"
(nota: a vez de jogar das peças brancas num jogo de xadrez)
* "Joga o joga de estratégia Oware contra o Tux.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Democracia, poder, eleitores e partidos políticos

Pois bem, as eleições estão à porta e algo de extraordinário vai começar a acontecer, até ao dia imediatamente a seguir às eleições. Falo-vos do comportamento dos eleitores, que caso ainda não se tenham apercebido, são eles que vão votar e são eles quem decidem. E como o Sardoal não é excepção deste comportamento...
Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual.
Ora daqui concluo que a democracia é o “poder do povo” e não o poder dos que se propõem a serem eleitos, que na sua esmagadora maioria, são perfeitamente inúteis e prejudiciais a governar o que quer que seja, mas, lá está, alguém os pôs lá, portanto não se queixem e actuem de forma activa.
Democracia, não existe e duvido que este conceito alguma vez tenha sido utilizado na sua verdadeira definição. Digo isto porque sou democrata, não de papel mas de convicção, e como tal nunca vi este modo de governação ser aplicável, mesmo sendo ainda um jovem, nem acredito que os mais velhos o tenham vistos porque viveram muitos anos em ditadura. Quer dizer, a diferença é que agora podemos falar à vontade sem ir parar ao Tarrafal, mas isso pode implicar prejuízos no bem-estar das pessoas se disserem o que pensam aos tipos que moram no poder, mesmo estando a dizer a verdade. Sim, porque se formos a analisar bem, os antigos fascistas são os novos democratas, eles não fugiram e continuam a ter o poder com eles, assim como os novos democratas, são como os antigos fascistas. Só que agora o Tarrafal, é mais perto. Passa por outro tipo de castigos, um dos quais ficar sem o seu local de trabalho, para ser oferecido a quem se “deita” com os ditos eleitos democraticamente, ou, como em muitos casos, ser oferecido a quem se deita com os filhos ou amigos dos “novos ditadores”, porque têm de os fazer calar ou têm de lhes pagar os vários favores que lhes vão permitindo continuarem nos lugares de destaque.
Outra coisa que me irrita, é fazer crêr que os partidos políticos, fazem parte da democracia. Estou farto de procurar e em todas as definições de democracia, não aparece uma única referência a partidos políticos. No mínimo é estranho, mas vendo bem as coisas, aceita-se tal facto como um dogma: é que os partidos políticos deram tanto crédito e respeito à democracia como o Salazar.
Mas o que vai ser engraçado de ver é o comportamento dos eleitores daqui até ao dia a seguir às eleições. Vão começar a evitar dizer algo que seja incomodo, vão deixar de falar com este ou o outro porque não querem que os vejam juntos, vão aparecer uns novos todos cheios de iniciativa, conversas em surdina, cumprimentos discretos, olhares de lado e tudo discretamente, pois no dia a seguir às eleições não convém estar associados aos que conviveram de perto, durante a campanha, com os que perderam.
É que o Tarrafal já não é em África, mas fica agora bem dentro dos limites da nossa vista.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Os Senhores Doutores que me desculpem, se quiserem

Não tenho nada contra as pessoas que se graduaram ou pós-graduaram. Não tenho nada contra nenhuma profissão nem pretendo ter, pois já tive muitas e como uma vez me disseram: não exite boas nem más profissões, existem é bons e maus profissionais.
Agora que já fiz uma observação importante, vou então começar.
Doutor, é aquele que fez douturamento. Teve boa classificação no desempenho de funções, mestrou-se, apresentou tese de douturamento, foi aprovado, fez tese, defendeu-a e foi aceite como tal. Ou seja, tudo o que não correponda a isto, não é um “verdadeiro Doutor”, mas sim um Doutor aceite e apelidado por pessoas que não estão qualificadas para os devidos efeitos. Com a agravante de que quem asim age, age em pressupostos de meados do principio do século XX, quando nas zonas rurais, tratavam-se os estudantes da cidade e das famílias com posses, com tal designação, com a devida e infeliz ignorância que desse tempo imperava.
Só que estamos em pleno século XXI, o Homem já foi à lua, além de muitas outras coisas, e também já existe televisão, jornais e internet, espalhados por todo o lado.
Ser Doutor, é algo mais que ser-se graduado (com bacharlato ou licenciatura), ou mestrado. É ter o devido Douturamento e, muito importante, ser competente, responsável e civicamente exemplar. Ser Doutor, não é profissão. Ser médico, advogado ou outra profissão qualquer, onde se assina o nome com um “Dr.” não é ser Doutor. E querer com falsos artefactos superiorizar-se e elevar-se social e estruturalmente perante os outros, com títulos académicos que não lhe são devidos, acho-os perfeitamente descabidos, indignos para com os verdadeiros Doutores e desrespeitosos para com todos os que os possam rodear.
Seria mais sério ir à conservatória e antes dos dois ultimos nomes, pedir para acrescentar a sigla “Dr.”! E assim sendo, ter o devido e legal direito de se puder apelidar de Dr. Silva Grácio (usando o meu nome para não levantar problemas).
Tudo mais para mim é treta, mas como falo só por mim e como não quero voltar a ser incomodado por mails a advertir-me que devo de tratar as pessoas pelo seu grau académico, ou pelo grau académico que gostariam de ter, decidi escrever isto em jeito de resposta.
Para dar um exemplo, acontece que quando me perguntaram o nome, eu respondi Daniel. Estava eu sentado ao balcão, não fosse eu sardoalense, e em resposta ao meu nome soube que a pessoa que ali estava sentado ao lado se chamava Franck (nome fictício). Só Franck, foi assim que ele se apresentou e foi assim que respeitosamente tivemos uma pequena conversa. Passado uns momentos, uma pessoa me disse que eu tinha estado a falar com o Administrador Financeiro do cantão de Neuchâtel.
Ora bem, mesmo sendo ou não Doutor, as pessoas são pessoas e como tal têm um nome dado quando nascem, que o usam até morrerem. Posso dizer que ele é competente e em momento algum, depois de saber que eu sou português, vim para a Suíça e que trabalho num restaurante, o facto de se tratar de um Administrador, não desvalorizou a minha pessoa, nem se notabilizou mais por isso e é no fundo um mortal comum. É que isso de ser-se falso Doutor só funciona enquanto as pessoas mais mesquinhas e sem personalidade, quiserem que eles o sejam. Enquanto não perceberem que as pessoas valem por aquilo que são e não pela arrogância que gostariam de ser, em Portugal os falsos doutores vão continuar a proliferar.
É que a formalidade é a arma mais poderosa dos incompetentes, e a formalidade devia de existir em pouca quantidade.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sou do Sardoal

Não imaginam a vergonha que se pode tornar, tentar explicar de onde somos, dando como referência algo que ninguém conhece, preterindo, por ignorância extrema, outros pontos de referência, bem mais conhecidos para todos os portugueses e até, quem diria, para os não lusos.
Acontece que quando me perguntaram de onde era, de que zona vinha, respondi como sempre: “Sou do Sardoal”. A pessoa não sabia onde era e aí começou a minha “carga de porrada” que me partiu todo. Porquê? Porque fui burro, ignorante e acima de tudo descobri, ou ele fez-me descobrir, que se queremos explicar de onde somos e ninguém sabe, devemos de dar verdadeiros pontos de referência, válidos e úteis.
A seguir ao “de onde vens” e à respectiva resposta, disse que era ao pé de (e até me sinto envergonhado) Abrantes. Como me acho um asno agora, depois de tamanha lição (nada em Abrantes me incomoda, nem tenho nada contra).
Pois bem, o que se seguiu, garanto-vos que me vai levar para a cova, porque responder: que é ao pé de Abrantes, é a mesma coisa que responder, a quem não sabe onde fica Abrantes, que é ao pé do Sardoal.
Prosseguindo a explicação, disse que fica perto de Vila de Rei ( 20Km ), Tomar ( 30Km ), e exemplo mundialmente conhecido, desde Espanha à Russia, Fátima ( 60Km ). E aí, o homem, desancou-me, e começou o festival da minha igorância por desleixo da “minha” terra.
Rapidamente e após as considerações dele, me terem remetido a um silêncio de quase 10 minutos, continuou dizendo ser “incrivél morar perto do centro geodésico de Portugal Continental (todo o portugûes sabe onde fica), estar perto da terra de Templários e das suas festas dos Tabuleiros (entretanto conheci quem vá da Suíça a Tomar por elas) e perto de um lugar simbólico para a religião católica, como é Fátima, e dares como referência Abrantes!!!”. De facto foi muito mau.
Perguntou-me também o que conhecia eu de Abrantes, para a ter referenciado, ao que respondi a palha de Abrantes, que foi rapidamente explicada pelo meu primo que era uma trocha de ovos. E aí voltou mais uma “carga de porrada”.
Penso que o homem parou por pena, porque me tinha desancado na totalidade. Mas o pior foi quando ao chegar um colega deste, da zona norte do país, e depois das apresentações normais, eu ter dito que era do Sardoal, o que em resposta ouvi algo que podia ter dito à 20 minutos atrás: “Isso não é a terra de Lagartos e tijeladas, no centro do país?”. E como a porrada já tinha sido pouca, o primeiro ainda me estrangulou mais um pouco, porque para ele tijeldas era dos melhores docês que já tinha provado, e eu não tinha dito nada.
Isto só me faz pensar que ser do Sardoal, por mais pequeno e mal que aquilo possa andar, há-de ser sempre a nossa Santa Terrinha, porque lá temos os nossos amigos por mais espalhados que possam andar no mundo, porque lá temos as grandes recordações de adolescência, porque fizemos lá coisas que nunca mais nos esquecemos, porque lá, por pior que seja, temos sempre o sorriso na cara, porque não podemos passar muito tempo sem pensar em como lá ir, e claro, porque havemos de ser sempre LAGARTOS, custe o que custar, doa a quem doer.
Depois disto tudo, entristece-me ver pessoas do Sardoal, dizerem que são de Lisboa, ou são de Abrantes ou de outro sítio qualquer, como se fossem uns deslocados de guerra que não têm onde cair mortos, rendendo-se a um snobismo triste, como se não soubessemos de onde vêm!
Por mais pequena que seja a nossa Santa Terrinha, jamais tenham vergonha dela. Seja de onde fores, não queiras ser envergonhado como eu fui.