domingo, 5 de abril de 2009

A Severa e o fado- Histórias do caraças!

Escrevi isto na altura em que a peça "A Severa e o fado" estava em exibição no atrium do Getas. Foi representada às Sextas e Sábados, num total de 18 espectáculos seguidos. Posso garantir que as histórias que a seguir vão ler são verdadeiras, todas elas, embora algumas estejam exageradas. Posso também garantir que o ambiente nos bastidores era do melhor e que aí, nos bastidores, havia sempre outra peça a decorrer, intitulada: "O que é que vai acontecer hoje?".
São muitas as memórias dessa peça, mas quero dedicar este texto a todos os que participaram e a todos os que vão perceber que histórias estou para aqui agora a contar. Pois bem:

Era sexta-feira e a hora aproximava-se. O público estava ansioso e a noite prometia. O atrium do GETAS voltava a viver outra grande noite. Como não aguentaram a pressão de fazer pela primeira vez uma peça, o Esfrega e o André mijaram-se pelas pernas abaixo, mais o Daniel, para não se ficar a rir.
O Pedro, esse estava nervoso. Queixava-se do vinho nunca mais chegar e temia que o Júlito não tivesse tempo de se engrossar, pois ele queria realismo.
Descendo a escada todos elogiaram a Florinda, dizendo que a maquilhagem do olho negro estava perfeita, ao que ela contrapôs, dizendo que ao não ter tempo para a maquilhar a São lhe tida dado mesmo um murro. Com o Pato ficaram preocupados pois ele trazia uma cicatriz na cara, ao que ele respondeu para terem calma porque a São tinha feito um bom serviço.
Depois de afiarem as unhas num torno mecânico portátil, os fadistas emprestaram a máquina ao Pato para ele afiar a navalha, para depois limpar as unhas.
O Pedro que já tinha tomado meia caixa de Prozac, só acalmou quando viu o Júlito chegar, mas como ele usa bigode na peça, confundiram-no com o pai, o que se tornou difícil de saber quem era quem. Lá o descobriram e sem perca de tempo meteu a boca no garrafão. Tentou não demorar muito, pois o Sirgado, já estava a dizer que tinha de ir ver o Benfica.
Ouvem-se as pancadas de Moliere e abre o pano. A Júlia que já tinha bebido meia garrafa de Porto para afinar a garganta, começou a cantar. Os diálogos começaram bem, mas numa fala mais longa do André, o Júlito deixou-se dormir ao balcão. O Pedro de nervoso que estava teve um desmaio, e o Fernando começa a marcar mais alto ao passo que o Mário puxa da costela do Carlos Paredes que lhe nasceu na dedo, para sacar um dedelhado na guitarra, mas nem assim o Júlito acorda. Entra o Esfrega, começa a falar mas para a meio. Senta-se e pede um copo de vinho pois não sabe o que há-de fazer. Disfarçadamente o Águas assobia-lha ao ouvido, este acorda, mas surpresa de todos os actores, ele salta 5 actos. Desorientados os fadistas começam a tocar um novo fado, entrando de seguida a Júlia a soluçar sem conseguir cantar, pois já tinha bebido uma garrafa de vinho do Porto.
Chateado o Sirgado foi para o Vital ver o Benfica.
O Fernando para de tocar e diz ao Mário que a música é em lá menor, ao que o Mário responde que sabia mas que ía tocar em ré menor, discutindo de seguida quais os acordes mais certos.
Já chateado com a situção, o Manuel entrou para tentar acalmar a situação distribuindo umas bengaladas. Nos bastidores a Florinda e a Margarida tentaram animar o Pedro, que está arrasado de todo. A Rosa temendo o pior entra em cena e dirige-se ao público para pedir que alguém chame a GNR. O André e o Luís de nervosos que estavam já bebiam os copos de vinho de penalti.
Para acalmar de vez a situação, o Esfrega retira o Júlito em braços, não sem antes se insurgir e dizer que todos eles são uma cambada de chulos. Estas palavras foram mal interpretadas pelo Águas porque pensava que estava a dizer que o vinho dele era vinagre. Pegou-se com o Pato, entra Luís, o André e o Manuel, os fadistas, enfim todos, numa cena de pugilato verídico no esquema de todos ao molho e fé em deus. O público está estupefacto e o Pedro tem um novo desmaio.
A Rosa abana o leque para ver se o Pedro recupera, enquanto a Florinda de joelhos no chão, reza, e a Margarida vai buscar um copo de leite para lhe dar.
Para acabar com toda aquela confusão, o Luís decide fechar o pano. A peça estava completamente arruinada. E é aí que o Pedro se encheu de coragem, mandou abrir o pano e seguido pelos actores, com excepção do Sirgado que estava a ver o Benfica, do Júlito que dormia nas escadas, do Daniel que além de se ter esquecido de ligar algumas luzes ainda não tinha largado as minis e da São que faz questão de não ir ao palco, foram enfrentar o público. Entre olhos negros, fatos rasgados e cenário partido, todos em comum tinham a cabeça baixa em sinal de vergonha.
Mas para surpresa destes, e sem que houvesse serviço prévio, todo o público se levantou e euforicamente aplaudiu pedindo “bis” e repetindo “bravo”. Era a loucura. Todos os espectadores se dirigiram à bilheteria para comprarem novo ingresso, pois estavam dispostos a rever, o que dizem ser, a peça mais real de sempre.

8 comentários:

André Lopes disse...

Fartei-me de rir ao ler o texto. Só quem passou pelas situações é que sabe do que falas ;)

"O André a beber compos de vinho de penalti????devia ser engraçado,ahahah...

Parabéns pelo texto
Grande abraço ;)
André Lopes

Unknown disse...

LOL.
Inspiraste-te nos "produtores" do Mel Brooks?
Amanhã já mostro ao treinador.
Abraço.

flores disse...

bom texto pá!
Quero ver se é mesmo assim no dia de estreia. É pessoas como tu que fazem falta, esta a ser uma experiência fascinante, obrigado pelo apoio depois tens de assistir.
fica bem abraço!

daniel grácio disse...

Tenho mais 2 textos sobre o Getas que escrevi em alturas distintas, mas tenho-os guardados a 7 chaves e penso que nunca ninguém os leu. Pode ser que qualquer dia os publique. Para já estou a ultimar um terceiro, mas depois logo se vê o que pode acontecer.

Paulo Sousa disse...

O "treinador" já leu.
Não se manifesta no blog (é muito discreto, prefere as "minis" porque não lhe respondem...)
:-)))))

Anónimo disse...

"Pato" é a prima, ó palhaço!
Quando te vir endrago-te as batas e noco-te a noz que te estafo!

Pedro Sousa

daniel grácio disse...

Obviamente que não era minha intenção ofender ninguém, mas de qualquer forma... as minhas desculpas.

Pedro Sousa disse...

Mais nada... e "se queres queres se não queres, nentes que se escama o gajo!"

No comentário acima estava a brincar pá. aquilo é uma frase da nova peça que a malta usa muito e a que escrevi agora tambem.
Abraço.